Cineclube Polytheama

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Perdidos, desesperados.

Julio, queria postar esse poema do Bukowski no blog da polytheama mas não sabia onde nem como, então envio pra vc aqui mesmo: Mas eu Julio o coloco, é lindo :

OS PERDIDOS E DESESPERADOS

era legal ser menino no escurinho do cinema,
muito mais fácil de se entrar no sonho
naquele tempo.
eu preferia os filmes da Legião Estrangeira Francesa
e havia um monte deles
naquele tempo.

eu adorava os fortes e as areias e os
homens perdidos e desesperados.
esses homens eram corajosos e tinham olhos
bonitos.

eu nunca vi um homem como aqueles
no meu bairro.
os homens do meu bairro eram encurvados e
carrancudos e irritados e
covardes.

eu ia me alistar na Legião Estrangeira Francesa.

eu me sentava no escurinho do cinema e era
um deles.

há dias que estávamos lutando sem comida
e com bem pouca
água.

as baixas tinham sido horríveis.
nosso forte estava cercado, restavam bem
poucos de nós.

pusemos nossos companheiros mortos com
seus rifles apontados para o
deserto
para fazer os Árabes pensarem que não tinham
matado muitos de nós

caso contrário seríamos
esmagados.

corríamos de um corpo a outro
disparando seus rifles.
nosso sargento foi ferido
em 3 ou 4 lugares mas
ainda comandava
gritando suas ordens.

aí mais de nós morreram heroicamente,
tínhamos sido reduzidos a apenas dois
(um era o sargento) mas nós
continuamos lutando, então ficamos sem
munição, os Árabes escalavam os muros
com escadas e nós os acertávamos
com o cabo dos rifles mas mais e mais
deles subiam nos muros, eles
eram muitos
nós estávamos
acabados, sem chance, aí ouvimos o som de uma
CORNETA!
chegaram os reforços!
fortes e bem-dispostos em cima de estrondosos
cavalos!
eles atacavam em massa sobre a areia,
centenas deles
vestidos em uniformes que luziam e brilhavam.

os Árabes desciam dos muros
correndo para seus cavalos e para suas
vidas
mas a maioria deles já estava
condenada.

o sargento então, sabendo da vitória, morria
em meus braços.
"Chinaski."ele me disse, "o forte é
nosso!"
deu um pequeno sorriso, a sua cabeça caiu para trás
e ele se foi.
aí eu estava em casa de novo
eu estava de volta ao meu quarto.
um homem encurvado, carrancudo e irritado
entrava no quarto e dizia,
"vá agora lá fora e corte a grama.
eu vi um fio de grama não aparado!"

lá fora no quintal
eu empurrava o cortador sobre a mesma grama
mais uma vez
pra frente e pra trás
pra frente e pra trás
me perguntando por que todos os homens de coragem
de olhos bonitos estavam tão longe,
me perguntando se eles ainda estariam lá
quando eu chegasse.

Charles Bukowski (tradução de Fernando Koproski)