Cineclube Polytheama

domingo, maio 25, 2008

Sessão 15/05/2008

Rastros de Ódio (The Searchers - EUA - 1956 - 118 min.) Direção: John Ford. Com: John Wayne, Jeffrey Hinter, Vera Miles, Ward Bond, Natalie Wood, John Qualen, Olive Carey, Henry Brandon, Ken Curtis, Harry Carey Jr. Antonio Moreno

Ride Away
(Stan Jones)

What makes a man to wander?
That makes a man to roam?
What makes a man leave bed and board
And turn his back on home?
Ride away, ride away, ride away.
-
A man will search his heart and soul
Go searchin' way out there
His peace of mind he knows he'll find
But where, O Lord, Lord where?
Ride away, ride away.
-

Comentário dos Editores:

È difícil escrever alguma coisa sobre "The Searchers", pois este filme já foi estudado e dissecado, pelos maiores críticos, professores, alunos que fizeram teses de mestrado e doutorado e etc. Existem vários fóruns na internet sobre este filme. É muita pretensão querer ver alguma coisa nova. Mas não vamos nos preocupar aqui no que já disseram, o que escreveremos com certeza alguém já escreveu ou falou, nada tem de novo.

Inicialmente vamos colocar as dúvidas que não soubemos explicar nesse grande filme.


1) Porque John Ford escolheu mais uma vez o Monument Valley, no Utah como seu cenário, quando a ação se passa no Texas, Novo México e Oklahoma?. Todos sabem onde ficam aquelas paisagens, que mostram um deserto com grandes blocos de terra isolados esculpidos pela natureza. A sensação que nos desperta é que aqueles blocos vigiam a solidão dos personagens e todas as suas angustias. Será para mostrar que os personagens andam, andam e não saem do lugar e nem mesmo estão onde pensam que estão?

2) Ethan, (por acaso este nome bíblico, do antigo testamento, significa; sólido, forte, constante e persistente) chega à casa do irmão Aaron com a farda de sargento dos Estados Confederados, derrotado na Guerra de Secessão que já terminou há 3 anos. Troca olhares apaixonados com a cunhada Martha.Vem com uma pequena fortuna em dinheiro de mais de US$ 3600,00, que dá para o irmão a troco de despesas de hospedagem. Eles conversam de um passado que não nos é retratado, nem diz onde esteve e o que fez depois que terminou a guerra. Perguntamos, esse passado não seria importante para definir a angústia de Ethan?

3) No dia seguinte, chega um grupo chefiado por um antigo capitão Confederado, que virou reverendo e capitão dos Texas Ranger, entidade do novo país. Vem acompanhado de um grupo onde está o velho rastreador Mose, que falará todo tempo por metáforas que só os personagens do filme conseguem entendê-lo. Por exemplo:

MOSE - Os índios sim Sra. Edwards. Caddos ou Kiowas. O velho Mose sabe. Sim, senhor.
ETHAN em seguida fala - Pode ser que este velho idiota não esteja tão errado. Pode ser coisa dos comanches.
MOSE - Palavras gentis, Ethan. Obrigado pela gentileza

Mais tarde Ethan encontrando uma flecha cravada em um boi, se vira para Mose e diz
- Caddos ou Kiowas, heim? E continua falando. Só uma tribo usa uma lança como essa..
Moses responde - Nada de Caddos ou Kiowas.. Comanches é claro!

Ethan tinha decifrado isso anteriomente.




4) Porque Aaron e Martha colocam Debbie para fora, através da janela para ficar encostada na placa da sepultura da avó. Na placa está escrito:

"Aqui jaz Mary Jane Edwards assassinada pelos comanches em 12 de maio de 1852, uma boa mulher e mãe em seus 41 anos de vida"

Quem era Mary Jane? Mãe de Ethan e Aaron?

5) Porque o cacique Scar tem olho verde, e o ator que o interpreta é o Henry Brandon, que nasceu em Berlin, tem as feições de um ariano puro. Pergunto é mestiço? Provavelmente, se baseado na lendária história da jovem Cynthia Ann Parker (mãe do líder comanche Quanah Parker), que em 1836 foi raptada no Texas por guerreiros Comanches. Ele usa um berrante para chamar seus guerreiros, ou começar um ataque. Os comanches usavam este recurso, tão comum nas tropas de infantaria dos exércitos através de seus clarins?


6) John Ford cometeria o erro de continuidade que é: Marty está caminhando a pé sozinho, e por ele passam correndo 5 cavaleiros, chefiados pelo Reverendo Clayton, que estavam há pouco com ele. Seus cavalos não se cansaram como o o de Marty. Ele grita "Tio Ethan", em seguida aparecem Ethan e Mose que vem em sentido contrario, indo em direção a casa de Aaron e Mose diz sem parar:
"- Da próxima vez obedecerá ao seu tio Ethan." Ethan tinha falado para Marty que os cavalos estavam cansados e precisavam descansar. Perguntamos porque só o do Marty que se cansou?
Realmente acreditamos que esses recursos aí usados na montagem fazem parte da linguagem de cinema, inclusive a cena seguinte mostra a chegada de Marty, a pé, junto com o tio a cavalo à casa de Aaron, que está em chamas.
Merece aqui destacar isto não é dúvida, é constatação: a variação da cor do céu, da hora em que a família Edwards percebe que vai ser atacada até a chegada de Ethan é simplesmente fantástica, vai do vermelho do crepúsculo até a claridade do luar, de uma lua cheia que não aparece.

7) Continuando a busca, quando encontram os comanches o grupo tenta roubar seus cavalos, a cena é feita em um pequeno cenário totalmente artificial. É cedo, tem uma pequena névoa, um riacho raso, as plantas não se mexem, toda essa seqüência é feita em planos médios. Tudo é falso. Perguntamos, é simplesmente um recurso de Hollywood, ou Ford tem aí a necessidade de mostrar a fantasia?



8) Os índios os cercam ao longo desses grandes monumentos de terra do "Monument Valley". Eles correm para chegar a um rio próximo, que não se vê, para atravessá-lo. Os comanches, são muitos e estão muito próximos mas não atiram e eles conseguem transpor o rio. Os primeiros comanches que chegam ao rio não conseguem segui-los e caem de seus cavalos. Em seguida, os índios depois de se prepararem para guerra, tentam atravessar, mas o grupo os rechaça. Na retirada dos índios, Ethan quer continuar a atirar, mas o reverendo não deixa e diz:
- Não, deixe-os cuidar dos que se feriram e morreram
Mas quando a câmara mostra o grupo de índios, não se vê nenhum corpo caído ao chão ou boiando no rio, ou um cavalo sem cavaleiro. Mais uma vez Ford nos engana?

9) Pouco depois Ethan, Marty e Brad encontram Scar e sua tribo nômade. Brad descobre que Lucy está morta, tenta revidar e é morto pelos comanches, mas Ethan e Marty não se aproximam e perdem a trilha. Por quê perdem a trilha, já que os estão seguindo tão de perto?





10) Os dois retornam à casa, o terreno está coberto de neve. Laurie fica eufórica com a volta de Marty, como antes, Lucy o agarra Brad e o beija do lado da mãe. Pergunto esta atitude fogosa das meninas era comum nas meninas do interior do Texas, no século XIX, ou Ford trazia o comportamento feminino para a década de 50, do século 20? Acreditamos na 2ª hipótese e mais uma vez Ford nos estaria enganando, ou nos mostrando que toda a sua história pode se passar nos dias atuais em qualquer lugar.

11) Depois do encontro com Jerem Futterman, que diz o paradeiro de Scar, Ethan e Marty vão acampar para dormir à oite perto no campo. Esta seqüência é de novo feita em estúdio, cenário totalmente artificial ao contrário das cenas do "Monument Valley". É noite, a noite americana tão bem explorada por Truffaut, as árvores não se mexem, as pedras parecem de papelão. É toda filmada em planos médios. Ethan prepara uma armadilha para o Sr. Futterman que vem roubá-lo, e o mata, assim como seus dois comparsas, todos com tiro pelas costas. De novo Ford nos quer dá impressão de Fake?

12) Laurie recebe uma carta de Marty, a leitura desta carta dura 16 minutos, mas Ford usa este recurso para mostrar os anos de procura por Scar. Em grande parte, com muito humor. Como a seqüência de escambo com os índios, em um posto indígena, com bandeira americana e tudo mais, onde Marty troca dois chapéus por um cobertor e não sabia que iria vir junto uma índia. Chamanos atenção que o cacique está sentado em uma cadeira de balanço. Mas pergunto porque Marty tenta vender antes duas rosetas de seda azul de 1º prêmio de um Lard Type Hog, tipo de porco rico em banha. Será que já existiam estes prêmios no século XIX? E quem ganhou iria se desfazer? Acredito que é mais uma brincadeira de Ford que tenta o filme todo quebrar a seriedade da história. Assim como a imposição do branco sobre o índio. Este posto tão distante de casa também está no "Monument Valley"






13) Depois de encontrar uma grande manada de búfalos, em uma paisagem tão diferente dos estados onde se passa a história, eles escutam a passagem de uma tropa de infantaria, eles não a encontram, mas Ford faz questão de mostrá-la atravessando um pequeno riacho coberto de gelo. Faço mais uma pergunta, por que ele procura um cenário tão diferente do local da história? É tão inóspito, e dá uma grande sensação de tristeza. A dupla continua andando na neve cada vez mas alta e chegam a um acampamento comanche. Grande parte da tribo tinha sido exterminada pelos soldados, inclusive "Olhe" a esposa comprada de Marty.

14) Ainda na carta, Marty relata sua ida a um acampamento do exército yankee. Neva muito. Aparecem índios em fila como estivessem sendo presos se dirigindo para um prédio, como em um campo de concentração. Junto com Ethan foram ver algumas mulheres brancas que foram capturadas com os comanches,. Debbie não esta lá. Um soldado comenta:
- Difícil acreditar que são brancas.
Ethan responde - Elas não são mais brancas. São comanches.




E as olha com um olhar que é uma mistura de pena e de ódio.

E Laurie termina de ler a carta. Mas uma pergunta, para Ford os índios são os bandidos?

15) Mais uma vez eles estão no Novo México, em um bar encontram, Mose que lhes apresenta um mexicano que sabe onde está Debbie. Seu nome é Emilio Gabriel Fernandez y Figueroa, este nome é mais uma brincadeira de Ford o nome junta dois mestres do cinema mexicano, o diretor Emilio Fernandes (Enamorada) e Gabriel Figueroa ( fotográfo do Emilio Fernandez e Buñuel). O ator é o mexicano Antonio Moreno.
Neste bar, Mose descreve o que é para ele a felicidade:
- Não quero nenhum dinheiro, Ethan. Nada de dinheiro, Marty. Só um teto sobre a velha cabeça de Mose e uma cadeira de balanço perto a lareira. Minha própria cadeira de balanço perto da lareira, Marty.





16) Por fim, Ethan encontra Scar, mas o cenário continua sendo o do "Monument Valley". Dialogo entre os dois:
ETHAN - Fácil saber de onde tirou seu nome.
SCAR leva mão ao rosto onde está uma grande cicatriz de diz:
- Você Grandes Ombros. O jovem, Aquele Que Segue.

Neste encontro se vê alguns escalpos, e a medalha que deu para Debbie está no peito de Scar. Debbie está na tenda como sua esposa.

Ethan e Scar trocam olhares de ódio, mas nada mais acontece. Após o encontro Ethan segue com Marty para beira do riacho, à espera do dia seguinte para negociar com o comanche. Pergunto: Por que Scar e seus homens não cercam Ethan e o matam? Será que Jonh Ford precisa mais coisas para aprofundar conhecimento do seu personagem? Pode ser. Debbie aparece, Ethan tenta matá-la, recebe uma flechada envenenada no ombro em vez de tiro. Conseguem fugir e se refugiam em uma pequena caverna e sozinhos, ele e Marty, conseguem rechaçar uma infinidade de índios. Seria inverossímil, ou Ford precisa manter nosso herói vivo para aprofundar mais o conhecimento de sua alma?

17) Ethan está ferido, faz um testamento deixando tudo que é seu para Martin Pawley. Quando este lê se revolta, pois se existe um parente de Ethan é Debbie. Mas como, se ela agora é comanche?


18) Eles retornam para casa abandonando a busca de Scar. Chegam no dia do casamento de Laurie com Charlie McCorry . Coincidência? Não, coisas do cinema.
Ao chegar, Ethan e Marty descobrem que estão sendo procurados por assassinato pelas costas de Jerem Futterman e seus 2 comparsas. Charlie e Marty brigam e
claro que o casamento não se realiza. O Reverendo, capitão Clayton dá ordem de prisão a Ethan, e tira-lhe a arma. Neste momento chega um tenente Greenhill, filho do coronel Greenhill comandante do batalhão que está próximo. Reproduziremos nos comentários o diálogo para mostrar como Ford é sacana (desculpe-nos a palavra mas hoje é tão comum que até é usada em público pelo nosso Presidente da República). Neste diálogo em duas vezes Ethan trata o tenente como filho, e na realidade, o ator que faz o papel do tenente é Pat Wayne, filho de John Wayne.

19) Por fim, os comanches comandados por Scar estão cercados, o cenário mais uma vez é o "Monument Valley" à noite e este diálogo entre Ethan e Marty é fundamental para compreensão do filme e pode passar despercebido, por isso o reproduziremos aqui:
REVERENDO - Apertem suas cilhas. Vamos atacar ao raiar do sol. Tenham certeza de . .
MARTY - Espere um minuto reverendo! Se atacarmos, eles vão matá-la e você sabe disso!
ETHAN - Estou contando com isso.
MARTY - Eu sei que está! Não vai ser deste jeito. Ela está viva e continuará viva.
ETHAN - Estar com comanches não é viver.
MARTY - Melhor do que ter os miolos estourados!
REVERENDO - Filho, sei que é difícil de dizer, mas há coisas mais importantes aqui do que sua irmã.
ETHAN - Claro que há. Vou dizer-lhe algo. Eu não queria falar mas vou. Lembra-se daquele escalpo amarrado na lança de Scar longo e ondulado?
MARTY - Eu vi. Não tente me dizer que era de Martha ou Lucy!
ETHAN - Era da sua mãe.

20) Marty consegue sozinho entrar no acampamento dos comanches, encontra Debbie e mata Scar. Depois Ethan consegue pegar Debbie na entrada de uma caverna, ao invés de matá-la, a eleva no ar como em seu retorno da guerra. Ele entrega Debbie à família Jorgensen. Marty fica com Laurie, e Ethan sai caminhando a pé, para onde não sabemos, Continuará a andar com todas as suas angústias e solidão?

O filme, John Ford critica, em grande parte com humor, como se criaram os Estados Unidos da América, com sua guerra fratícida, onde os derrotados viraram vencedores. Brancos expulsando os índios de seu habitat natural, criando ódio e violência e quebrando todas as suas tradições..




The Searchers" é uma longa caminhada de um soldado de um exercito que já não existe, Ele chega ao Texas, mas não se sabe em que lugar. Ele andará por Oklahoma, Novo México e no próprio Texas, mas nunca sairá do mesmo lugar, todos os lugares são iguais, um deserto com monumentos escarpados de terra vermelha e pedra, como tivessem sempre o vigiando. Ele é o "Big Shoulders" um homem que é um enigma, não tem casa, amigos, amor, somente procura o que não quer achar. Acabaram seu exercito, seu irmão, cunhada querida e sobrinhos, Anda com um rapaz na sua procura. Não se sabe se entre eles existe algum parentesco. Foi Ethan quem o encontrou Marty quando bebê ao pé de uma árvore, essa foi a história que ele contou para o irmão Aaron. É mesmo um mestiço? Quem são os seus pais? Só Ethan sabe e não revelará.

A procura de Marty chegou ao fim. Nosso héroi agora estará sozinho, vai embora, para onde?

Resumindo nosso comentário:




José
(Carlos Drumond de Andrade)

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
-

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
-

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
-

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
-
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
-
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
-

Colocaremos nos comentários vários diálogos do filme, como ilustração.

domingo, maio 11, 2008

Sessão 01/05/2008 - Dia do Trabalho

Aurora Boreal (Northern Lights - EUA - 1978 - 96 min.) Direção: John Hanson e Rob Nilsson. Com: Robert Behling, Susan Lynch, Joe Spano, Marianna Åström-De Fina, Ray Ness, Helen Ness, Helen Ness, Thorbjörn Rue, Nick Eldredge, Jon Ness, Gary Hanisch, Melvin Rodvold, Adelaide Thorntveidt .

Sobre esse filme, só colocaremos a sinopse da contracapa do VHS.


Dakota do Norte, 1915: o estado está em pleno alvoroço. Preços baixos para a safra de grãos, hipotecas com juros altos, especulações com as terras e altíssimas tarifas no transporte pela via férrea são somente partes do sofrimento que passam os trabalhadores do campo. Um pequeno grupo de agricultores, frustrados com a situação a que se encontram, resolvem se unir para instalar um governo de trabalhadores do campo na Capital do Estado.. Então, eles formam uma organização chamada Liga Independente e começam a trabalhar.

Alguns agricultores aderem imediatamente ao movimento, ansiosos em colocar um fim em seus temores. Mas, outros não acreditam na possibilidade de êxito, e resistem a gastar energias numa causa que eles julgam perdida.



Acrescentaremos a fala final do narrador do filme um velhinho de 94 anos fazendo ginástica.

Um dia destes eles irão muito longe e sabem do que estou falando.
Sou um otimista e sei que o bem vem do mal. As coisas mudarão estou certo disso. Eu tenho tempo, posso esperar.


quinta-feira, maio 01, 2008

Sessão 17/04/2008


Pinceladas de Fogo (Chihwaseon - Coréia - 2002 - 117 min.) Direção: Im Kwon-Taek. Com: Choi Min-sik (Jang Seung-up), Ahn Sung-ki (Kim Byoung-moon), Uou Ho-jeong (Mae-hyang), Kim Yeo-jin (Jin-hong), Son Ye-jin (So-woon), Han Myoung-gu (Lee Eung-hun), Jung Tae-woo (Jang Seung-up - jovem), Choi Jong-sung (Jang Seung-up - criança), Ki Jung-soo (Yoo-suk), Park Ji-il (Kwak Sung-min), Park Bum-kyu (Gae-Ddong), Hwang Chum-ha (Pan-soi), Na Byong-kyoung (Pang ManK-wan), Bae Tae-il (Oh Cheon-suk ), Lee Kuem-ju (Kim Byoung-moon's Wife), Lee Jung-hun (Song-hyun), Park Seung-tae (Mr. Go), Park Eun-a (Kisaeng), Lee Suk-koo (Potter), Sohn Yean-chi (Hai Bin)

Personagens principais Masculinos
Jang Seung-up (Ohwon)

Nasceu em 1843 e desapareceu sem deixar rasto em 1897. Viveu em tempos conturbados, mas mesmo assim conseguiu ser um homem livre, bebendo e pintando. Lutou para ultrapassar os seus limites enquanto artista. Foi batizado por Kim como Ohwon, em homenagem a dois grandes pintores.

Kim Byung-moon

Foi o mentor de Jang seung-up, a figura que mais se aproximou da de um pai. Foi um homem que acreditou na Reforma e no fim da corrupção do Governo. O acompanhou a vida inteira, na ifância tentou lhe tirar das ruas, na adolescência apresentando os mestres, e na fase adulta sempre discutindo o seu trabalho.

Hai Bin
Seu primeiro mestre, apresentado por Kiim Byung-up, quando reencontrou Jang Seung-up adolescente. . Kim o apresentou a este mestre com a seguinte carta: Este rapaz tem talento. As suas pinceladas são muito vigorosas! Talvez venha a revelar-se o grande artista que o senhor sonhou ser. Aceite-o como aprendiz." Ensinou-o a pegar um pincel. Como construir a estrutura de um desenho. Com ele ainda conheceu os clássicos e a tocar flauta.




Lee Eung-hun

Amigo de Kim, admitiu Jang Seug-up para trabalhar em sua casa, para que ele entrasse em contato com as coleções de arte chinesas que possuia. É irmão mais velho de So-woon. Levou o jovem pintor para ter aulas com o Mestre Hyang na Escola de Arte da Ponte.


Mestre Hyang (Yoo-suk)

Ensinou os princípios da pintura a Jang Seung-up. Mais tarde quando foi preterido em favor do discípulo ao inicio de uma pintura para um Governador. Pediu demissão da Escola criando revolta dos alunos contra Ohwon.




Nosso comentário começará decupando o início deste filme:


Em primeiro plano aparece um pincel pintando em uma folha de papel uma grande mancha negra. A câmara dirige-se para a mancha até escurecer toda a tela. Começa o genérico em letras azuis em cima do fundo preto. A apresentação dos créditos é toda em silêncio.
Corte.
Aparece em primeiro plano um prato de porcelana branco com tinta preta e uma mão molhando um pincel com
tinta.


Corte.
Câmara em plongé, por trás da cabeça de um pintor que trabalha uma tela.
Corte.
Em plano médio aparece o pintor em corpo inteiro ajoelhado pintando sobre uma tela estendida no chão, aparecem as mãos de algumas pessoas, que estão em volta dele. Ele é Jang Seung-up.
Corte.
Primeiro plano detalhando a pintura do quadro.
Corte.
Plano geral, mostra o pintor com toda uma platéia em volta. O pintor pede vinho, e continua seu trabalho.
Corte.
Em primeiro plano a câmara mostra outro detalhe do trabalho do pincel sobre a tela.
Corte.
Close-up do rosto de Jang Seung-up, Neste plano, Kwon-Taek fez questão de ressaltar a expressão dos olhos deste artista pintando sua tela.
Corte.
Primeiro plano rápido de um dos expectadores.
Corte.
As mãos de outro imitando os gestos das de Jang Seung-up..
Corte.
O rosto de outro, que parece estar maravilhado.
Corte.
A câmara filma por trás de um expectador Jang Seung-up pintando.
Corte.
Close do rosto de Jang de frente.
Corte.
Primeiro plano de um pincel pintando de uma grande mancha negra.
Corte.
Plano médio de Jang Seung-up cercado de pessoas que parecem estar embevecidas com o espetáculo que assistem. Jang levanta-se e a câmara o acompanha. Bebe vinho.
Corte.
A câmara está atrás de 2 espectadores de chapéus, no fundo abre- se uma tela pintada. E Jang Seung-up diz — Está pronto.
Corte.
A câmara desce mostrando em primeiro plano detalhes da tela pronta. Ao fundo ouvem- se os seguintes comentários:
— Mas que talento! Emana uma força divinal, como se fantasmas dançassem à sua volta.
— Ele cumpre as regras todas, mas pinta à margem delas. E estando para lá delas confirma-as.
Corte.
Rosto em primeiro plano de Jang Seung-up que diz:
— Uma pincelada são dez mil e dez mil são uma só. Essa conversa de regras não me diz nada.
Corte.
Câmara em primeiro plano mostra um grupo de espectadores, e um deles diz:
—Ah! Ah! Mas que tolo louco!
Corte.
Plano geral, em câmara fixa, mostra Jang Seung-up saindo do prédio onde estava a pintar e ouve-se o seguinte comentário.
— Como um mendigo nojento como tu questionar as regras da arte?! Esta confiança no teu vil talento será a tua perdição!
Corte.
A câmara em grua subindo mostra Jang Seung-up andando por uma rua de Seul, cheia de gente. Está nevando. A câmara mostra o telhado do casario da cidade e ao fundo cordilheira de montanhas.


No fundo se ouve a seguinte narração "Em 1882, no final da dinastia coreana de Chosun, infiltrados estrangeiros e um administração corrupta enfraqueceram o poder do povo e da nação. O pintor Jang Seung-ub viveu durante este período."

Corte.
Câmara em travelling enquadrando em plano médio da rua soldados japoneses passando em marcha.
Corte.
Entrada da casa de um aristocrata..

A seqüência seguinte na casa desse aristocrata vamos só reproduzir o dialogo que se estabelece.

Dono da casa dirigindo-se para Jang Seung-up:
—- Esperávamos-te. O Sr. Kaiura é japonês. Escreve para o "Diario de Hansung". Insiste em possuir um trabalho teu, portanto trouxe-o cá.
Sr. Kaiura fala em japonês é um interprete traduz para Jang Seung-up
— Ele admira-o muito e considera o seu trabalho magnífico. Ele ouviu dizer que gosta de vinho e trouxe este garrafão do Japão. Trata-se de um vinho raro que os diplomatas japoneses costumam beber no Japão.
Jang Seung-up — Agradeço o vinho. Mas como pode o trabalho dum mísero coreano, estar à altura dum império formidável como o Japão?
O dono da casa:
— Não te mostre tão arrogante! Qualquer artista está disposto a morrer por quem lhe reconhece talento. Sr. Kaiura admira simplesmente o teu trabalho.
Sr. Kaiura
— Queria perguntar-lhe uma coisa, mas tenho algum pudor. Constou-me que tem origens humildes. Como é possível que pinte tão bem?
Jang Seung-up
— Meu tolo amigo! Os gênios não se fazem: nascem assim mesmo!
e solta então uma enorme gargalhada.

Fizemos questão de descrever o roteiro do início deste filme de poesia como foi chamado na Inglaterra "Drunk on Women and Poetry" para que possamos descrever melhor como Im Kwon-Taek mostra a vida de Jang Seung-up.

A seguir faremos um pequeno resumo do filme a partir da seqüência acima descrita.


Kwon-Taek, nos leva a infância do pintor. É inverno, neva. Uma criança está sendo espancada, em um bairro pobre de Seul. Um senhor apanha-o e leva- o para sua casa: é o Sr. Kim, o ambiente é mais confortável, mas Jang Seung-up não fica muito tempo lá, foge roubando algumas roupas do filho do Sr. Kim, que comenta: "Não agüentou as regras rígidas de uma residência nobre".

Quando se torna adolescente, um certo dia, Sr. Kim entra em uma loja no subúrbio de Seul, para comprar papel, onde Jang Seung-up está trabalhando,. Papel está em falta, mas a loja está está cheia de painéis coloridos, todos eles pintados por Ohwon em troca de comida.

Este encontro com o Sr. Kim foi fundamental para vida de Ohwon. Que o leva para morar com um artista, Sr. Hai Bin, que lhe ensinará os segredos da pintura e da música, em troca de executar trabalhos braçais da casa. Com este professor apreendeu os clássicos.

Quando este seu mestre falece, Sr. Kim o apresenta outro aristocrata chinês, Sr. Lee para treinar seu olhar em sua coleção de clássicos, Sr Lee o aceita como servo. Sr. Lee trouxe recentemente da China o "Livro das meditações Chi" que aborda os mistérios do fluxo Chi e a forma como Chi perpassa os nossos cinco sentidos, determina a força da nação.

Nessa casa conhece a irmã mais nova do Sr. Lee, So-woom, que é muito doente, e descobre o amor. Passa olhar para So-woom como um sonho distante, devido à diferença social que os separam. No período nesta casa, passa a observar os detalhes da natureza; nas flores, nas pedras, nas teia, e nos pássaros.

Quando So-woom casa com um outro aristocrata, Jang Seung-up abandona a casa do Sr. Lee e passa ter vida própria. Bebe muito e vive em um pequeno quarto, consegue sobreviver vendendo cópias dos desenhos da coleção do Sr Lee que tinha memorizado. Mas este o encontra e reconhece o seu talento leva então Jang Seung-up para a Escola de Arte da

Ponte. Vai estudar com o Sr. Hyesan, um artista de renome.

Em 1866, o regente Daewon começa a perseguição aos católicos. Nove missionários franceses e 8 mil coreanos são decapitados.Jang Seung-up procura entre os decapitados uma amiga católica, Mae-hyang, que lhe disse: "todos são iguais aos olhos de Deus". Não a encontra e pensa "Tanto sonhaste em abolir a desigualdade na Coréia, para onde te retiraste agora tão desesperadamente?"





É chamado à casa do Sr. Lee para atender a um último pedido de So-woom, que está muito doente e que quer que lhe faça um desenho. Ao acabar o desenho, de uma garça, presencia a morte de So-woon que foi o seu primeiro amor, um amor platônico, pois nunca teve a chance de se aproximar e revelá-lo.

Depois da morte de So-woom, mesmo já sendo um pintor famoso se afasta da cidade e procura o campo. Charcos, plátanos coloridos, mar, bandos de aves e garças que alçam vôo, passa ser o seu habitat.

Depois de certo tempo, volta à cidade e encontra de novo Sr. Kim, que agora o batiza de Ohwon em homenagem a outros dois grandes pintores. Passa beber muito e trocar de mulheres, mas sempre volta para o campo, onde descobre a beleza das pedras, da neve, da água, e das árvores com seu complexo emaranhado.


Observa a chuva, as tempestades, cheias de trovões e relâmpagos, tudo é importante para o desenvolvimento de seu trabalho. Em certa ocasião tenta vender seus trabalhos para camponeses, mas eles não apreciam aquele tipo de pintura. Tem que roubar para sobreviver.

Anda de vila em vila, mas sempre retorna ao campo na procura de aperfeiçoar seu próprio estilo. Gostaria de não mais aceitar trabalhos por encomenda da aristocracia corrupta coreana, mas para sobreviver tem que continuar aceitando.
Durante toda a sua vida andou entre as cidades, cercado de mulheres e vinho e o campo, na mais perfeita solidão.

Andando pelo campo pensava "Estes vastos campos não alimentam o povo esfomeado e sim oficiais corruptos" De que servem então tantos cereais?" Nestas frases, Kwon-Taek coloca Jang Seung-up andando a cavalo e falando diretamente com a câmara. Isto é tão rápido que se torna difícil perceber de imediato que Kwon-Taek conversa com Ohwon.

Pouco depois uma jovem vendo-o pintar uma revoada de pássaros, comenta: "Estes pardais perseguidos pelo falcão lembram-me o sofrimento do povo de Gobu e sinto-me entristecer. Mas quando eles afugentam o falcão, são como que a fúria do povo em fuga e fico contente. "

Depois, fazendo amor com esta jovem, é surpreendido por rebeldes que queimam o enorme painel em que está trabalhando. Os rebeldes lhe poupam a vida por reconhecer que Ohwon é um homem de talento divino. Mas é acusado de parasita e de viver à custa da nobreza.
Jang Seung-up continuará andando, mas seu servo o deixa para lutar com os camponeses, e lhe pergunta:
— Para onde vai o Mestre? E ele responde:
— A vida é uma nuvem errante. Irei aonde me levarem os pés.

1894 Revolta dos Camponeses, muito fogo, Jang Seung-up continua andando na neve, já está com 50 anos, encontra de novo o Sr. Kim, em um campo de neve, que está fugindo do novo regime da Coréia, e se estabelece o seguinte diálogo entre eles:
Jang Seung-up
— Diz-se por aí que todos os agricultores rebeldes foram massacrados em Ugeumchi.
Sr. Kim
— Proteger o nosso país e o povo... Aí está outro sonho vazio. Quando pisados temos de clamar justiça, mas é muito importante escolher o momento certo. A Revolução acabou por abrir as portas às potências estrangeiras. Devíamos ter aguardado até estar inteiramente preparados.

Ohwon volta a Seul, encontra sua amiga católica Mae-hyang. Ao ver em sua casa um vaso de cerâmica mal acabado, volta para o campo atrás da olaria onde se fabricavam estes vasos, passa a desenhá-los em troca de comida. O filme termina com a seguinte frase:

"Ohwon desapareceu sem deixar rasto em 1897. Reza a lenda que se retirou para a Montanha dos diamantes onde se tornou um eremita imortal."

Faremos a seguir uma analise sumária desse filme e dividiremos em 4 partes:


1ª) O Pintor

Jang Seung-up começou a pintar desde cedo e logo seu talento foi reconhecido. Mesmo de origem humilde, com uma infância muito adversa, encontrou pessoas que reconhecendo esse talento o ajudaram. Não vamos nos preocupar em sua história, esta visão já está no resumo. Vamos nos fixar como vemos o personagem, sempre marginal fugindo todas as regras de condutas e olhando a arte de forma sempre inovadora.

Procurava a essência de sua terra em sua pintura, sabia que a Coréia tinha uma tradição milenar nas artes, talvez mais que a China e o Japão, mas em seu tempo, não se conformava em ver sua Coréia perder as tradições, entre as constantes invasões da China e do Japão. E quem consumia sua arte? Era a classe dominante, totalmente corrupta, sempre apoiando os invasores e os próprios invasores.

Pintou para rei, governadores e para a burguesia. Esses fatos fizeram que Jang Seung-up, se afastasse cada vez mais do convívio da sociedade. Mesmo quando fazia um trabalho e o doava a uma mulher, sabia que ela o venderia para um aristocrata. Só um pequeno servo que tinha e Mae-Hyang que guardarão os seus trabalhos doados, pelo resto da vida.

Ohwom, como batizou Sr. Kim seu protetor, andou por toda a Coréia aperfeiçoando sempre a sua pintura procurando dar vida àquilo que pintava, mas sabia com tristeza que sua obra sempre estaria isolada na mão do poder, onde o povo não teria acesso para apreciá-la.

Im Kwon-Taek faz questão de mostrar as fases da vida de Jang Seun-up, a infãncia e adolescência, fases sem compromisso, a fase adulta em que além da pintura, se preocupa com vinho e mulheres, e a fase da maturidade onde procurou encontrar sentido da sua arte, nesta fase viveu em grande parte na solidão.

2ª) O Ambiente

Aproveitando a deixa do item anterior procuraremos ver em que ambiente Jang Seung-up viveu dividindo nas fases da sua vida.

Na infância, órfão, viveu na miséria dos guetos de Seul em um ambiente inóspito.

A adolescência passou a trabalhador em serviços braçais em casas de aristocratas bem situados, o ambiente que o cercava era de grande conforto, como empregado não tinha acesso direto a estes aconchegos, mas nessa fase começou a descobrir a beleza das árvores, das águas, das flores e dos pássaros, e do amor.

Em adulto passou a maior parte do tempo entre as mulheres, o vinho e a pintura. Mesmo reconhecido como um grande talento, gastava todo o dinheiro que recebia em bebidas e farras, mas foi nesta fase começou a pensar e procurar seu estilo e se refugiava uma grande parte do seu tempo no campo. Tudo na natureza passou a ser importante, na descrição do resumo este item foi bem detalhado.

Na maturidade, seus amores passaram a ser, mais suaves. Andar pelo campo além de apreciar os fenômenos sempre novos natureza, fugia da sociedade dominada por homens corruptos, e oficiais de exércitos que não eram da sua terra, a Coréia, que estava em constante domínio da China ou do Japão, enquanto o povo passava fome e os camponeses eram massacrados.

Com a fama que tinha, com seus quadros valendo fortunas se isolou. Nesta maturidade o fogo passou a ser uma constante, os trabalhos que não o satisfaziam eram rasgados e queimados. Os camponeses em revolta aparecem andando com tochas, como se fosse uma grande procissão. A tomada é de longe é só se conseguem ver as tochas de fogo.

No final trabalhou em uma olaria como um simples pintor de vasos de cerâmica em troca de comida. Desapareceu no campo sem deixar vestígios.


3ª) Suas Mulheres

Elas foram importantíssimas na vida de Jang Seung-up. A primeira a que ele se refere foi a que cuidou dele como um irmão mais novo quando era mendigo. Ela era maltratada, sujeita a coisas "nojentas" por um mendigo com quem vivia como disse para o Sr. Kim. Este mendigo Jang Seung-up retratou nesta fase. Falemos agora das outras mulheres.
So-woom

Irmã do Sr. Lee foi sua primeira paixão, sentida de longe. Uma pequena aproximação se deu em um dia que estava a pintar uns pássaros, com a mão machucada depois de apanhar de outros servos do Sr. Lee, que achavam que ele como pintor se considerava superior a eles, ouviu uma voz que vinha por trás dele dizendo:

— O desenho é tão real, que o pássaro parece prestes a levantar vôo!
Era So-woon que olhando para Jang Seung-up observa
— Estás magoado! Na mão também! Essas mãos tão talentosas.

Pouco depois So-woom se casa com um outro aristocrata, e Jang Seung-up sai da casa do Sr. Lee Tempo depois ele o chama para pedir ao pintor que satisfaça ao último pedido de So-woon e lhe faça um desenho. Jang Seun-up assiste a sua morte, sem nunca poder satisfazer esse seu amor, e vai embora pelo campo e se ouve a seguinte canção:

Isto é
Uma despedida
Isto é
Uma despedida
Adeus
Ao meu amor
Se tens mesmo de ir
Diz-me
Quando voltas.

Mae-hyang

Uma kisaeng (geixa coreiana), católica, que toca oboé, vive com ela certo tempo, pinta-lhe em uma capa de seda uma arvore florida e diz cantando
"A ameixoeira
Florece só para ti"
Ela responde:
— Diz-se que as flores da amendoeira não devem vender o seu perfume. Envergonho-me daquilo que sou.

Com a perseguição dos católicos Mae-hyang desaparece, mas ele a encontra muitos anos depois, tocando oboé, quando é chamado para pintar o desenho com o tema "Pinheiro e a Garça" para o governador de uma província. Tem mais um caso com ela, agora escondido pois Mae-hyang não está só.

Na fase madura de Jang Seung-up a encontra de novo em Seul.. É dona de uma pequena taberna e lhe oferece para viver com ela sem se preocupar com dinheiro, só com sua pintura. Ainda guarda a capa de seda que ele tinha pintado com a ameixeira florida. Mas Ohwon não aceita ficar lá e continua sua vida errante.

Jin-hong

É uma mulher que se submete durante algum tempo a todas as bebedeiras e ausências de Jang Seung-up. Se cansa e arranja outro homem também pintor. Ohwon quando soube, vai embora, mas Jin-hong lhe pede um desenho. Ele o faz um grande painel com o tema "O Pássaro e a Flor" e vai embora. Jin-hong vende-o mal tinha secado a tinta.


Hyang-lan

Tem 18 anos trabalha como kisaeng no Salão Ramo de Primavera, filha de lavradores na província. Ohwon estranha como uma menina tão bonita foi parar em um lugar daqueles. Com esta menina, que se parece uma mulher que conheceu há muito tempo que tinha o apelido de Lee, depois de um pequeno diálogo prefere se levantar e ir embora, a possuí-la.


Kisaeng sem nome

Está com ele quando faz os desenhos de pardais voando fugindo de um falcão, ele fica encantado com esta menina que critica o governador e toda a sua família, faz com ela amor como estivesse gerando um filho que nunca teve, no final é arrancando de cima da kisaeng pelos camponeses, em revolta.

4ª) A Obra de Ohwon Jang Seung-up


Pode-se dizer que sua obra teve várias fases. Iniciou copiando os clássicos, usando as técnicas que apreendia com seus mestres.Posteriormente procurou seu próprio estilo, essa foi a fase mais sofrida mudou várias vezes, com o tempo descobriu que não bastava saber desenhar era preciso transmitir além do que via. Para melhor compreensão, reproduziremos a seguir alguns diálogos do filme que mostra a visão de Im Kwon-Taek sobre a arte de Jang Seung-up.

Primeiros ensinamentos do mestre, amigo de Sr. Kim:

—Pega no pincel como se segurasses um ovo na palma da mão. Segura-o bem com os cinco dedos. Dos dedos para o pincel, e do pincel para a folha, assim deves deixar fluir a tua energia espiritual. Primeiro delineia a "ossatura". Cada pincelada deve ter estrutura. Em segundo lugar vem o sombreado. A sombra confere a distância e dá profundidade aos objetos.
Este mestre lhe ensinou que um analfabeto não pode pintar, e lhe ensinou os clássicos.

Na casa do Sr. Lee conheceu a obra de grandes pintores chineses, passa a copiá-los. Quando Sr. Lee descobre mostra aos amigos o desenho copiado e pergunta a eles:
— Comparem estes dois. Qual deles é o original? Ele pintou-o após ter visto o original uma só vez.
Um dos presentes responde:
— Um deles não tem selo, mas aparte isso, são absolutamente idênticos.
Outro:
— Copiar a forma pouco mérito tem. Mas vejam como transpira vida! Revela um espantoso poder de observação e de memória! O original tem dois pardais, mas a cópia exibe um terceiro. Parece tão triste e solitário.

Em uma taberna quando se torna discípulo do Sr. Hyesan se estabelece o seguinte dialogo entre ele e os seus colegas da Escola de Arte da Ponte. Mongan, Dongcho e Songhyun. Este último quer aprender a pintar pássaros e flores.

Uma voz aparece sem mostrar o rosto, em seguida se vê que é do Mongan:

— Conhecem o pintor e poeta Su Tung-po? Ele diz que pintar a natureza tal como é não é por si só arte. Os quadros têm de conter os pensamentos do pintor
Songhyun diz:

— É demasiado difícil para aprendizes de pintor como nós, pintar os pensamentos que o traçado esconde. Pintar não o objeto, mas seu significado. O mesmo seguindo o lema do nosso mestre: "primeiro pensa, e só depois pinta ".

Orwon, aí só escuta, não dá opinião
Na cena seguinte seu mestre observa um desenho "Regresso a Casa":

—Pintar não é copiar aquilo que se vê! Tens que discernir a essência daquilo que vês! Sentes a diferença (diz isto comparando com outro desenho). Tu pintaste um erudito a apreciar flores em plena bebedeira. O que pensa tu sobre a expressão dele e a atmosfera deste desenho? Ele recusou-se a "comprar" uma promoção e em sinal de protesto, demitiu-se do emprego que acabara de arranjar. O "Regresso a Casa" reflete o desalento de Tão Yuan-ming. Não sentes o ambiente do poema neste quadro? A imaginação deve incendiar o pincel.As linhas encerram em si aquilo que é mais importante. A disciplina do espírito deve orientar a pintura.


Passa um tempo e Ohwon vai entregar ao mestre o seu trabalho:
— mestre terminei o "Regresso a casa". E escuta as seguintes palavras do mestre:
— Como podes dizer "terminei" de ânimo tão leve? Na arte nada está terminado.
Mais tarde bebado com Jin-Hong profere as seguintes palavras sobre sua obra:
—A fragrância das letras? A harmonia entre poesia, prosa e pintura? Palavras! Que se lixem todos! Só é uma pintura se tiver um poema?! Um quadro sabes . . . ? Se um quadro está bonito, então nada mais importa. Os estupores que não sabem pintar escrevem sempre um poema e tentam enganar as pessoas com uma filosofia de trazer por casa!

Em uma mesa de uma taberna Ohwon com amigos, um deles faz um comentário sobre um dos seus trabalhos:

— Não pode ser má, se foi pintada por Ohwon.
Outro:
— Ele copia as árvores de Guo Xi, os rochedos de Huang Gong-wang e os pássaros e flores de Lin Liang. Criar o seu próprio estilo recorrendo aos méritos dos mestres é válido.
Outro:
— não sabes que a compreensão dos clássicos exige talento?
Outro:
— Ou será a inveja que te faz falar, agora que estás bêbado?

Conversa de Ohwon com o mestre Hyesan, quando já é considerado melhor que o mestre Hyesan diz:

— Levanta-te. Não está aqui em causa eu perdoar-te. Isto mostrou simplesmente que as pessoas te consideram melhor que eu. A cor azul vem do índigo e é mais bela que o próprio índigo. Todavia, sem o índigo não se pode fazer o azul. Do mesmo modo, para bem daqueles que hão de vir depois de ti, sê como o índigo.

Conversa na fase madura com Sr. Kim, exibindo para ele um trabalho recente seu e Sr. Kim diz para Ohwon:


— A composição e a estrutura estão bem. A escolha das cores é harmônica. E no que toca a semelhança, o teu toque talentoso é absolutamente perfeito. Contudo, está na altura de criares as tuas próprias pinturas, imbuídas no teu espírito e da tua alma.

Ohwon:

— Eu também queria mudar. Quero mesmo mudar. As vezes, nem consigo dormir, só a pensar nisso. Faz-me ferver o sangue! Nem imagina o que sinto quando pinto por encomenda!
Sr. Kim:
— Quando o teu trabalho te desagradava, rasgava a folha num assomo de fúria! Como podes usar uma desculpa tão esfarrapada? Um quadro pintado com o intuito de obter elogios e lucro imediato, é um quadro morto. Nasce morto asseguro-te.


Ohwon dando aula:

— Reparem naquela pedra preta. Mexe-se ou não? Até uma humilde pedra deve estar viva aos olhos do pintor. Se uma pedra estiver viva, é dinâmica; se estiver morta, está estática. Não se pode pintar uma pedra morta. Conversando com Sr. Kim que está adoentado e este fala:
— A autenticidade da pintura coreana jaz no seu realismo. Mas os teus desenhos são demasiado irrealistas. Não representam a realidade exageram-na; não exprimem verdadeiros sentimentos, e sim infantilidade. Não podes pintar a miséria que o povo deste país vê?
Ohwon:
— As pessoas não tem nada que as console. Se eu puder animá-las pintando uma paisagem fantástica, não estarei também a cumprir o meu dever? Um desenho é um desenho. Não pretendo mudar o mundo como o Mestre e os seus reformistas.

Em casa de Mae-Hyang em Seul, Ohwon, bem velho, mantém com sua amiga este diálogo sobre um jarro de cerâmica diz:
— Aquele jarrão. Onde encontraste um jarrão tão insípido e banal?

Mae-Hyang responde:

— Foi feito por uma mão modesta, que seguiu os caprichos dum coração simples. Parece inacabado, mas é uma obra delicada e quente.

Depois deste dialogo Ohwon se retira de Seul para nunca mais voltar, mas ainda trabalha em uma olaria pintando, com as mãos tremulas, jarros, que precisam ir ao fogo para estarem prontos para venda. Nestes jarros seus desenhos são bem simples e contém a essência de toda a sua obra.


Neste filme Im Kwon-Taek coloca todo o seu amor à Coréia, e se mostra triste ao ver que seu pais nos últimos 200 anos, nunca pode ter sua própria identidade, sempre invadido ora pela China, ora pelo Japão e hoje depois da guerra da Coréia de 1950 a 1953 pelo EUA. A Coréia do Sul, separada até hoje da Coréia do Norte, tem sua independência mas seus costumes e tradições, cada dia estão mais esquecidos.

Para enriquecer nosso blog postaremos as notas abaixo escritas pelo próprio diretor do filme.

Nota de intenções por Im Kwon-Taek - foto ao lado

(Este material está no site da Atalanta filme:

http://www.atalantafilmes.pt/2003/embriagado/Embriagado.doc )

O nome Won é o nome dos famosos pintores Danwon e Hyaewon. Jang seung-up, cujo nome é “oh-won”, é um dos três pintores famosos “won” da arte coreana. É um dos melhores pintores da dinastia Joseon e as pessoas olham para os seus trabalhos como se tratassem de obras divinas.

Apesar de ter vivido há cem anos, as suas magníficas dádivas ainda não nos permitiram compreender como foi realmente a sua vida. O seu trabalho nunca foi suficientemente analisado. Esta história começa com uma simples curiosidade sobre um pintor genial que viveu uma vida pouco normal.

Há três elementos principais no filme:

Primeiro, o final do século XIX foi uma época extraordinária; segundo, Joseon, uma região no Nordeste asiático; e Jang Seung-up, que nesta época e neste lugar se tornou um pintor famoso, mesmo pertencendo à classe baixa. Estes três elementos estão fortemente interligados e explicam-se uns aos outros no filme.
Jang seung-up é conhecido como um homem livre que viveu segundo as suas normas e não se preocupou com nada, mesmo com as ordens do Rei. Era conhecido pelas suas pinturas extraordinárias, quando estava rodeado de vinho e de mulheres. Mas eu não o vejo assim. Acho que eram apenas formas de exprimir a sua profunda angústia para manter um espírito artístico num mundo tão negro. Sentia na sua vida esforços desesperados para ultrapassar os limites. Estava orgulhoso dos seus trabalhos, mas ao mesmo tempo torturava-se para atingir um nível de perfeição nunca antes atingido. E essa é a razão principal para eu ter feito este filme.

A outra prende-se com o facto da estética das pinturas tradicionais coreanas serem enquadradas nas pinturas da Ásia Oriental. Devido à modernização, que leva muitas vezes à negação das tradições, a estética e o espírito das pinturas coreanas estão a ser esquecidos. Tento encontrar através dos meus filmes a estética e valores da arte coreana. O "Pinceladas de Fogo" é uma experiência que resulta da combinação entre a realização e a narrativa tradicional coreana, através de elementos visuais das pinturas tradicionais coreanas. "Pinceladas de Fogo" é uma análise dolorosa de como julguei a natureza e a história em que nasci e tenho vivido e que filmei com uma câmara enquanto realizador. É também uma dedicatória aos esforços de um artista para suportar uma realidade brutal com o objectivo de se encontrar. Acho que o “mestre embriagado de pintura”, Jang Seung-up, que encontrei espiritualmente enquanto preparava este filme, é uma sombra minha que continuo a lutar pela arte com uma câmara como ele o fazia com o pincel há 100 anos.

Há poucas informações sobre a vida de Jang Seung-up. A única coisa que se sabe é que gostava de mulheres e de beber e que era um génio. No entanto, tínhamos de dar-lhe vida, por isso precisávamos de pensar bastante nisso. Se tínhamos de pôr elementos dramáticos na sua história e já que se iria tornar ficção, a única solução era inventar a história. Encontrei Jang Seung-up, pensando como um pintor poderia ter vivido a sua vida numa altura difícil. Se fosse um drama forte, seria fácil para o realizador. Mas, ao contrário, mostrar a sua vida de forma realista e perceber como tornar o filme poderoso é muito complicado. Por isso pensei que força poderia dar ao seu quotidiano. Para atingir este objectivo percebi que teria de transformar a sua vida na de uma pessoa que luta diariamente. Mostrar ao público este tipo de vida não é fácil. De todos os meus filmes, quis que este fosse o mais poderoso. Pelo menos, tentei.

O que me interessava era mostrar como a natureza na nossa adolescência, meia-idade e velhice muda. Com esta ideia em mente, o filme foca-se em como Jang Seung-up torna esta natureza em mudança sua e como ele se desenvolve enquanto pintor. Os quadros também são um conceito. Ao olhar para uma montanha e sentir-se algo, quis mostrar como a natureza muda e a interiorizamos. Para Jang Seung-up, esta natureza torna-se parte dele e ele conceitualiza-a enquanto artista. Para o filme, o artista KIM Sun-doo criou imitações das pinturas de Jang Seung-up e eu vi-o criar estas pinturas. Percebi então que as paisagens de Jang Seung-up não eram meras imitações das pinturas chinesas mas sim esforços de maximizar os aspectos bons da natureza.

Jang Seung-up era orfão e deambulou até se encontrar num mundo de pintor, em que criou o seu próprio mundo. Acho que tenho uma vida semelhante à dele, ao chegar à realização e encontrar-me nos meus trabalhos. Talvez seja essa a razão para ter encontrado coragem de fazer este filme.