domingo, janeiro 20, 2008

Sessão 17/01/2008


Exótica (Exótica - Canadá - 1994 - 103 min.)

Diretor : Atom Egoyan

Atores: Bruce Greenwwod, Mia Kirshner, Dom McKellar, Arsinée Khanian, Elias Koteas,
Sara Polley, Victor Garber, Calvin Green, Peter Krantz, Ken McDougall

Sinopse: Eric e Christina trabalham numa discoteca, a Exótica.Uma história antiga e complexa os une. Francis, de dia inspetor de impostos e à noite frequentador de Exótica, põe o clube em efervescência para substituir o vazio que a ausência da família faz na sua existência. Zoe, proprietária de Exótica e futura mãe, dirige o clube como a vida que leva - com mão de ferro e coração de pedra. E então que surge Thomas, que possui uma loja de animais e se revela um grande revendedor de animais exóticos.

No clube noturno Exótica, Christina faz striptease vestida de colegial, sendo observada sempre por um cliente assíduo, que é Francis. Esta trama se entrelaça com outras, em diferentes tempos.
Prêmio da crítica em Cannes-94, foi o filme que fez a fama do diretor Atom Egoyan no circuito cinéfilo planetário.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Comentário Exótica


Vou aqui comentar como vejo este filme. Coloco no subjetivo, porque uma obra de arte, pode ter sempre, várias leituras, mas a importante, é como você a vê, não como os outros a vêem. Deve então ficar claro que esta é a visão que tenho do filme, que pode ser diferente da do realizador, e da sua também.

Este é um filme sobre a solidão e o desejo.

O filme começa com Thomas chegando de viagem ao exterior. Ele se olha em um espelho na alfândega, que é transparente por dentro, logo não pode ver que é observado por um inspetor, que conhecerá mais tarde em outra situação, e o chefe que comenta:

— Você se pergunta, o que levou a pessoa até este ponto. O que se vê no seu rosto, na sua atitude, que a tenha levado por este caminho. Você se convence de que esta pessoa tem algo oculto que você deve encontrar. Você olha a bagagem dela, mas é o rosto dela, gestos dela que você realmente fica examinando. Ele olha diretamente para você.
Olhe para ele atentamente. O que você vê?

É noite; um outro rapaz está apanhando um táxi no aeroporto para o centro, e Thomas lhe propõe rachar a corrida. Dentro do táxi, Thomas acaricia a camisa por dentro do paletó, como tivesse ali alguma coisa preciosa. Seu companheiro fala, no celular:

— O que? — Está noite não... — Tem certeza? — E não pode cancelar

O táxi para em uma rua deserta, o rapaz salta e dá para Thomas duas entradas para um Ballet naquela noite, como a sua parte na corrida. Quando o táxi sai, você percebe que ele tinha parado em frente à boite "Exótica", mas na calçada, do outro lado da rua.

O final desta cena é mostrada com a câmara em grua, acima do táxi. Quando o táxi se desloca, a câmara lentamente o acompanha. Aparece então uma mulher que vem andando sozinha pela calçada, só se ouvem seus passos. A câmara desce e passa acompanhá-la. É fixa inicialmente e em panorâmica quando ela atravessa a rua. Ao entra na boite, a câmara por trás a segue em travelling, por um corredor estreito e azulado, e o silêncio inicial é quebrado por uma música frenética.

Procurei descrever com detalhes este início, para mostrar o clima de mistério criado, como se alguma coisa importante fosse acontecer. O personagem principal, ainda não apareceu, só aparecerá aos 10 minutos de filme sentado a uma mesa do "Exótica" .

Antes de falar da trama, para melhor elucidar este comentário descreverei como vejo os personagens.

Thomaz Pinto: Dono é de uma loja de animais exóticos que ganhou de herança do pai. É homossexual e solitário, contrabandeia animais raros.

Christina: Dançarina de striptease do "Exótica". Em seus shows aparece vestida como colegial.

Eric: DJ do "Exótica". Insufla o publico masculino, durante as apresentações das stripers, principalmente de Christina, a chamá-las para dançar exclusivamente para eles por U$ 5.00. Existe uma norma da casa que não permite-os tocá-las.

Francis: É auditor do governo, está fazendo auditoria na loja de Thomas. Freqüenta a "Exótica" assiduamente para conversar e olhar Christina vestida de colegial dançando para ele.

Zoé: Dona do "Exótica", que ganhou de herança da mãe. Administra a casa com todo rigor, está grávida de um filho do Eric, com quem tem um contrato.

Tracey Brown: Baby sitter da filha de Francis. Sobrinha de Francis fica em sua casa todos os dias que ele vai a "Exótica". Ganha U$20.00 por hora. Na volta da boite Francis sempre a leva em casa.

Harold Brown: Pai de Tracey, irmão de Francis. Paraplégico.

Inspetor da Alfândega: negro que se encontra Thomas uma noite no ballet e se torna seu amante.

Egoyan conduz um clima de mistério na trama toda dentro da linha de David Lynch. Podemos citar as cenas do interior da boite, escura, cheia de plantas exóticas em tonalidade azulada, com mulheres dançando nuas, um DJ as descrevendo de forma erótica, uma música forte, e em cada mesa um homem solitário, parecem cenas do "Blue Velvet". Egoyan consegue isto sem copiar nada de Lynch. Mas, o que realmente acentua a sua influência, são os personagens solitários, fechados e enigmáticos.

No desenvolver do filme, Egoyan usa em outras cenas a estética de Wim Wenders para marcar a solidão dos personagens: enquadramentos acentuando o espaço vazio, casas pintadas de cores fortes, com posição bem definida da câmara, Vou descrever uma cena do filme que bem mostra esta situação.

Câmara fixa no chão. Francis está em pé conversando com o irmão na varanda de um sobrado com grades de quadrados colocados em diagonal, os três primeiros são brancos o 4º, 6º, 8º e o 11º o último são amarelos o 5º e o 10º são verdes e os 7º e 9º são vermelhos. Na parte de baixo tem várias lojas inclusive um bar com mesas do lado de fora, neste bar a bandeira da porta é vermelha, um negro esta encostado na parede ao lado de uma bicicleta. Um carro estacionado cobre o canto inferior direito, no vidro da janela lateral reflete como se fosse um espelho. Em cima do sobrado há um letreiro luminoso ainda apagado, pois a hora é do final da tarde, bem definida pela cor do céu, azul mais escurecendo. Vários fios atravessam o cenário. Francis coça o cabelo. Corte. Agora câmara está na varanda e focaliza Francis em um ligeiro contra-plongé pelo lado direito. Em contracampo a câmara agora mostra Harold que está com um drink ma mesa, que parece ser um whisky on the rocks, escrevendo com a mão esquerda em uma prancheta, esta vestindo uma camiseta rosa escrita Bob Marley e com um papagaio no ombro. As ruas estão vazias nem carro ou pessoas passando, de repente aparece um carro e um grupo de jovens, imediatamente a porta se abre e entra Tracey. Cumprimenta Francis e o pai e sai com Francis. Esta cena demora 1 minuto e 20 segundos. E tem o seguinte diálogo:

F — É estranho pensar que esse pássaro viverá mais do que nós.
H —Estranho?
F — você já ensinou a ele dizer alguma coisa?
H — Sim
F — E dizer o que, Harold?
H — Na verdade, não diz mais.
F — Esqueceu?
H — Não creio. Não são para esquecer. Deve ter perdido o interesse.

Entra Tracey e diz:

T — Desculpe pelo atraso.
F — Ok. Estávamos falando do Félix.
T — Sobre ele? Pai?
F — Afinaram o piano. Soa lindamente

Em outras cenas Egoyan coloca a câmara por fora do carro, e mostra o parabrisa servindo também como espelho para mostrar o luminoso agora acesso com luzes verde e vermelho.

Estas influências não impedem Egoyan de criar seu próprio estilo, que utilizará muito bem em seus próximos filmes, como "O Doce Amanhã".

Egoyan no final aparentemente fecha tudo, como tivesse resolvido os problemas de todos os personagens. Thomas é inocentado, Francis não irá mais a "Exotica", Zoé terá o filho, e continuará cuidando da Exótica, Eric vai embora, Tracey não irá mais à casa de Francis tomar conta de uma criança que não existe.

Ele cria durante todo o filme um mistério como um filme policial noir, com várias estórias paralelas que se entrelaçam. Desejos, intrigas, crimes, vingança, corrupção mas tudo isto para que?
Então, quando você acaba de ver o filme vai perceber que tudo que viu pode ser falso, que tudo poderá continuar igual sem nenhuma alteração, pois todos os personagens continuam vivos sem que nem um fato forte tivesse acontecido para mudar suas vidas, pois tudo que aconteceu, agora é contornável.

Abaixo vou reproduzir alguns diálogos do filme:

Tracey e o pai, Harold

T — Ele quer acreditar que a Lisa continua ali, e comigo se convence com mais facilidade.
H — Francis teve sempre métodos estranhos para se convencer de muitas coisas.
De coisas que não aconteceram , que podem acontecer, que pessoas fizeram coisas por razões que não são verdadeiras.

T — Que tem isso haver comigo, pai?
H — Nada. Nada mesmo
T — Então, porque tenho que continuar a ir lá?
H —Não tem.
T —Você diz para ele?
H — Digo

Thomaz e Francis

F -— Bom dia Thomas
Th —O que aconteceu?
F — Tive que ir embora
Th — Ouviu tudo?
F — Sim
TH — Você sabia?
F — Sabia o que?
Th — Que a Christina sabia da tua filha.
F — Quando a policia veio me interrogar, disseram-me muitas coisas, me disseram que minha mulher tinha relação com o meu irmão. Há anos. Disseram-me que eu pensava que a Lisa não era minha filha. Que eu pensava que era filha do Harold.
Th —Por que disseram isso?
F — Achavam que eu podia ter feito mal a ela... que queria lhe fazer mal. Depois encontraram quem o fez. E me deixaram ir. E voltei para casa. Então a minha mulher morreu em um acidente de automóvel, dois meses atrás. O Harold estava no carro. Ele sobreviveu.

sexta-feira, janeiro 25, 2008  
Anonymous Anônimo said...

vou voltar sempre...

sábado, janeiro 26, 2008  
Blogger The funambulist and the diver said...

Exótica é até agora o filme do Egoyam que mais me fisgou. Achei bárbaro e muito forte o modo como ele trata silenciosamente do trauma transferindo toda a trama das relações para um contexto de erotismo/voyerismo, aliás, lindamente abordado, com muita elegância, achei ele muito fino e cortante no modo de filmar. Ótima pedida Júlio! Um abraço a todos, Laura

quarta-feira, março 19, 2008  

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