segunda-feira, janeiro 07, 2008

Comemorando 3 anos

Três anos... Parece pouco, mas não é ...

Foram três anos assistindo a todo o tipo de filme, discutindo sobre
eles, enfim, mostrar muitas vezes opiniões divergentes sobre uma mesma
obra, que o debate só reforça sua importância.

Revitalizar o blog, representa não só registrar estas opiniões, mas
também possibilitar um histórico dos filmes exibidos nas sessões do
cineclube.

Para comemoração do aniversário, foram escolhidos três filmes em curta-metragem:


As Estações, de Artavazd Pelechian (Vremena Goda -1975 - URSS - 29 min.)

Por acreditar num cinema épico e epidérmico. De fluxo poético, sangüíneo, cósmico, inventando novas relações espaciais-temporais entre imagem e música através da montagem. Um poema do que é SER E ESTAR no mundo. Em qualquer mundo, em qualquer época. (Eryk Rocha)


Toda Memória do Mundo, de Alain Resnais - ( Toute la Mémoire du Monde - 1956 - França - 22 min.)

Com "Toute la mémoire du monde", Resnais estabelece a base do seu projeto cinematográfico sobre lugares da memória. Em 22 minutos, Resnais analisa cirurgicamente, metodicamente a biblioteca nacional da França. Com uma câmera hiperativa, ele anda furtivamente, ele cheira,
ele sente este enorme edifício. Muito rápido o ritmo, o filme estabelece mais uma vez, o corte entre ele e outros diretores da nouvelle vague.


Vereda Tropical, de Joaquim Pedro de Andrade ( 1977 - Brasil - 24 min.)

É a crônica de uma tara gentil, encontro lírico nas veredas escapistas
de Paquetá, imagética verbalização e exposição de fantasias eróticas.
Contém a denúncia da vocação genital dos legumes, a inteligência das
mocinhas em flor, a liberdade dos jogos na cama, a simpatia pelos
tarados, o gosto da vida e a suma poética de Carlos Galhardo. Foi bom
fazer, como espero que seja bom de ver, um dia, nas telas: educativo e
libertário." (Joaquim Pedro de Andrade)

Leia o conto de Pedro Maia Soares.

VEREDA TROPICAL

Amo melancias.
Gosto de possuí-Ias ao fim da tarde, quando vem chegando a penumbra, de pé, sobre a mesa da cozinha, no sofá, onde é mais aconchegante, ou deitado no tapete da sala, onde podemos rolar de um lado para o outro.
Prefiro as longas, escuras, rajadas, mas são difíceis de encontrar. Por isso, quase sempre tenho uma das redondinhas comigo. Faço um orifício pouco profundo, o suficiente apenas para remover a casca. Depois penetro-as, sentindo a carne vermelha se desmanchar, deixando escorrer um líquido fresco e doce. Com as mãos, seguro o outro lado, acariciando o lugar do cabo. Bem lavadas e lustradas, elas são macias ao tato, as mãos escorregam pelo arredondado da forma. Eu pressiono mais pra dentro, sinto as sementes me envolvendo e ouço o ruído da carne que se esfacela.
Com as longas é possível possuí-Ias dos dois lados, sempre com o mesmo resultado. Não encontro o primeiro furo, é preciso fazer tudo de novo, o prazer é total. Com as pequenas, em compensação, ao penetrar do lado oposto, o líquido escorre também pelo buraco anterior, de modo que posso senti-lo em meus dedos, úmido, frio, pegajoso.
Tentei melões: são pequenos demais, pouco carnudos e pálidos. Experimentei abóboras, mas machucaram-me de tão duras. Berinjelas, mamões, abacates, sempre a mesma insatisfação. Por isso volto às minhas queridas melancias, ao velho e sempre renovado prazer. Compro-as na feira e levo-as para casa debaixo do braço, dissimulando o desejo que cresce. Sinto-me meio obsceno com meu objeto ao lado assim exposto, em contato com minhas axilas. Mal posso conter a vontade de acariciá-Ia. Em casa dou lhe um banho bem cuidadoso, esfrego um pouco de talco, encosto meu rosto em sua pele macia e, quando consigo conter o desejo, fico à espera do grande momento, ao fim da tarde.
Às vezes, deixo-me levar pelas perversões. Depois de fazer o orifício, não a possuo logo: mordo sua carne rubra, chupo-lhe o caldo, introduzo minha língua em movimentos circulares e vou enchendo minha boca de saliva e semente, suco e bagaço. Fico com o rosto encharcado, perco a cabeça. Atabalhoadamente monto sobre ela, forço suas entranhas e estremeço de prazer. Depois, deitado sobre o tapete, descanso um pouco. Mas sub-repticiamente escavo outra parte de seu corpo com meus dedos e fico remexendo lá dentro. É meu tônico revigorante: em breve estou pronto para amá-la de novo.
Mais tarde, extenuado e nu, dou 15 facadas em meu amor, retalho-a em pedaços e como-a sofregamente, sentindo a baba escorrer pelos meus ombros abaixo.

Publicado pela revista Status Literatura-Contos Eróticos, da Editora Três.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

O filme do Joaquim Pedro ficou ecoando. A melancia, a coisa terna & bem sacana, o "S" projetado do Cavalcanti, a sequência deliciosa de fazer feira no Rio. Alguma coisa ali (me) faz pensar em certos contos da Hilda Hilst, ou no tom desabusado e lirico que ela usava a nas cronicas que saiam no jornal de Campinas. Segue trecho:

"E se eu ficar lúdica, pastosa, permissiva, sonora, casta e contundente e não disser mais nada congruente, se eu ficar esmolando pelas ruas, lúcida espirocando, se eu levitar enquanto sobre o meu texto tu flutuas, se eu disser que aos cinco anos de idade aquela prodigiosa Weil (informe-se) sentindo frio depois do banho disse ao seu próprio corpo e diante de sua perplexa mãezinha: "Tu tremes, carcaça?", o que tu sentirias? O que é o insólito, o imponderável, o hórrido? O que é ser feito de carne, hein, gente? O que quer dizer coisa, pensar, acontecer? Como é o teu tempo? O que é o Tempo? E antes e depois? É obsceno dizer pústula? E salário mínimo, também? E fruta? E maçã, com aquele rego do meio? E boca? E fome? E fora de cena, é obsceno ficar? E ser velho e disforme e verrugoso, ainda é ser? (...)"

abraços a todos e parabéns pela festa.
Laura

quarta-feira, janeiro 09, 2008  

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